segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

"Mas se o que eu digo for erro
E o meu engano for provado
Então eu nunca terei escrito
Ou nunca ninguém terá amado"

Soneto Antigo

"Responder a perguntas não respondo.
Perguntas impossíveis não pergunto.
Só do que sei de mim aos outros conto:
de mim, atravessada pelo mundo.

Toda a minha experiência, o meu estudo,
sou eu mesma que, em solidão paciente,
recolho do que em mim observo e escuto
muda lição, que ninguém mais entende.

O que sou vale mais do que o meu canto.
Apenas em linguagem vou dizendo
caminhos invisíveis por onde ando.

Tudo é secreto e de remoto exemplo.
Todos ouvimos, longe, o apelo do Anjo.
E todos somos pura flor de vento."

De espelho

"Se sou amado,
quanto mais amado
mais correspondo ao amor.

Se sou esquecido,
devo esquecer também,
Pois amor é feito espelho:
-tem que ter reflexo."

Explicação (alterei mesmo o Chico Buarque, paciência)





Porque me descobriste no abandono
E com tortura me arrancaste um beijo
Porque me incendiaste de desejo
Quando eu estava assim, morta de sono

Com tua alegria abriste meu segredo
Do meu romance antigo me roubaste
Com teu raio de luz me iluminaste
Quando eu estava assim, morta de medo

Porque não me deixaste adormecida
E me indicaste o mar, com que navio
E me deixaste então com uma saída

Porque desceste ao meu porão sombrio
Com tua vida me ensinaste a vida
Quando eu estava assim, morta de frio

Soneto 17




"Se te comparo a um dia de verão
És por certo mais belo e mais ameno
O vento espalha as folhas pelo chão
E o tempo do verão é bem pequeno.

Ás vezes brilha o Sol em demasia
Outras vezes desmaia com frieza;
O que é belo declina num só dia,
Na terna mutação da natureza.

Mas em ti o verão será eterno,
E a beleza que tens não perderás;
Nem chegarás da morte ao triste inverno:

Nestas linhas com o tempo crescerás.
E enquanto nesta terra houver um ser,
Meus versos vivos te farão viver."

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Agora Falando Sério

"Agora falando sério
Eu queria não cantar
A cantiga bonita
Que se acredita
Que o mal espanta

Agora falando sério
Eu queria não mentir
Não queria enganar
Driblar, iludir
Tanto desencanto


E você que está me ouvindo
Quer saber o que está havendo
Com as flores do meu quintal?
O amor-perfeito, traindo
A sempre-viva, morrendo
E a rosa, cheirando mal



Agora falando sério
Preferia não falar
Nada que distraísse
O sono difícil
Como acalanto

Eu quero fazer silêncio
Um silêncio tão doente
Do vizinho reclamar
E chamar polícia e médico
E o síndico do meu tédio
Pedindo pra eu cantar
"