sábado, 30 de janeiro de 2010

Oração

Santa Clara, clareai
Estes ares.
Dai-nos ventos regulares,
De feição.
Estes mares, estes ares
Clareai.

Santa Clara dai-nos sol.
Se baixar a cerração,
Alumiai
Meus olhos na cerração.
Estes montes e horizontes
Clareai.

Santa Clara no mau tempo,
Sustentai
Nossas asas.
A salvo de árvores, casas
E penedos, nossas asas
Governai.

Santa Clara, clareai.
Afastai
Todo risco.
Por amor de São Francisco,
Vosso mestre, nosso pai,
Santa Clara, todo risco
Dissipai.

House

Na maior parte do que mata dá pra dar um jeito. Já mau caratismo, a gente não cura aqui.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Ai de Ti, Copacabana

Eu te procuro
No Leblon, Copacabana
Vejo velas de umbanda
Um buquê jogado ao mar
Um marinheiro, estrangeiro, desumano
Deixou seu amor chorando querendo se afogar

No mar

Eu te procuro nos lençóis da minha cama
Ai de ti, Copacabana, será duro o teu penar
Pelo pecado de esconderes quem me ama
Ai de ti, Copacabana, serás submersa ao mar

No mar

O riacho navega pro rio
E o rio desagua no mar
Pororoca faz um desafio
No encontro do rio com o mar

No mar

Então mergulho no meu sonho absurdo
Entre carros, conchas, búzios
Entre os peixinhos do mar
Lembro Caymmi, Rubem Braga, João de Barro
E sigo no itinerário da princesinha do mar

No mar

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Carta aos Puros

"Ó vós, homens sem sol, que vos dizeis os Puros
E em cujos olhos queima um lento fogo frio
Vós de nervos de nylon e de músculos duros
Capazes de não rir durante anos a fio.

Ó vós, homens sem sal, em cujos corpos tensos
Corre um sangue incolor, da cor alva dos lírios
Vós que almejais na carne o estigma dos martírios
E desejais ser fuzilados sem o lenço.

Ó vós, homens iluminados a néon
Seres extraordinariamente rarefeitos
Vós que vos bem-amais e vos julgais perfeitos
E vos ciliciais à idéia do que é bom.

Ó vós, a quem os bons amam chamar de os Puros
E vos julgais os portadores da verdade
Quando nada mais sois, à luz da realidade,
Que os súcubos dos sentimentos mais escuros.

Ó vós que só viveis nos vórtices da morte
E vos enclausurais no instinto que vos ceva
Vós que vedes na luz o antônimo da treva
E acreditais que o amor é o túmulo do forte.

Ó vós que pedis pouco à vida que dá muito
E erigis a esperança em bandeira aguerrida
Sem saber que a esperança é um simples dom da vida
E tanto mais porque é um dom público e gratuito.

Ó vós que vos negais à escuridão dos bares
Onde o homem que ama oculta o seu segredo
Vós que viveis a mastigar os maxilares
E temeis a mulher e a noite, e dormis cedo.

Ó vós, os curiais; ó vós, os ressentidos
Que tudo equacionais em termos de conflito
E não sabeis pedir sem ter recurso ao grito
E não sabeis vencer se não houver vencidos.

Ó vós que vos comprais com a esmola feita aos pobres
Que vos dão Deus de graça em troca de alguns restos
E maiusculizais os sentimentos nobres
E gostais de dizer que sois homens honestos.

Ó vós, falsos Catões, chichisbéus de mulheres
Que só articulais para emitir conceitos
E pensais que o credor tem todos os direitos
E o pobre devedor tem todos os deveres.

Ó vós que desprezais a mulher e o poeta
Em nome de vossa vã sabedoria
Vós que tudo comeis mas viveis de dieta
E achais que o bem do alheio é a melhor iguaria.

Ó vós, homens da sigla; ó vós, homens da cifra
Falsos chimangos, calabares, sinecuros
Tende cuidado porque a Esfinge vos decifra...
E eis que é chegada a vez dos verdadeiros puros."

(Vinícius de Moraes)

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

NIVER

O céu está no chão
O céu não cai do alto
É o claro, é a escuridão
O céu que toca o chão
E o céu que vai no alto
Dois lados deram as mãos
Como eu fiz também
Só pra poder conhecer
O que a voz da vida vem dizer
Que os braços sentem
E os olhos vêem
Que os lábios sejam
Dois rios inteiros
Sem direção
Eu canto, suplico, lastimo, não vivo contigo
Sou santo, sou franco
Enquanto não caiu, não brigo
Me amarro, me encarno na sua
Mas estou pra estourar

Eu choro tanto, me escondo, não digo
Viro um farrapo, tento o suicídio
Com um caco de telha ou caco de vidro

Só falo na certa repleta de felicidade
Me calo, ouvindo seu nome por entre a cidade
Não choro, só zango, eu resisto
Fico no lugar

Eu choro tanto, me escondo, não digo
Viro um farrapo, tento o suicídio
Com um cado de telha ou caco de vidro

Partido Alto

Deus é um cara gozador
Adora brincadeira
Pois pra me jogar no mundo
Tinha o mundo inteiro
Mas achou muito engraçado
Me botar cabreiro
Na barriga da miséria
Eu nasci brasileiro

Diz que deu
Diz que dá
Diz que Deus dará
Não vou duvidar, oh nega
E se Deus não dar
Como é que vai ficar, oh, nega?
"à Deus dará" , "à Deus dará"
Diz que deu
Diz que dá
Diz que Deus dará
Não vou duvidar, oh nega
E se Deus negar
eu vou me indignar e chega
Deus dará , Deus dará

Jesus Cristo ainda me paga
Um dia ainda me explica
Como é que pôs no mundo
Essa pobre titica
Vou correr o mundo afora
Dar uma canjica
Que é pra ver se alguém se embala
Ao ronco da cuíca
Um abraço pra aquele que fica, meu irmão

Diz que deu
Diz que dá
Diz que Deus dará
Não vou duvidar, oh nega
E se Deus não dar
Como é que vai ficar, oh, nega?
"à Deus dará" , "à Deus dará"
Diz que deu
Diz que dá
Diz que Deus dará
Não vou duvidar, oh nega
E se Deus negar
eu vou me indignar e chega
Deus dará , Deus dará

Deus me deu mãos de veludo
Prá fazer carícia
Deus me deu muitas saudades
E muita preguiça
Deus me deu pernas compridas
E muita malícia
Pra correr atrás de bola
E fugir da polícia
Um dia ainda sou notícia

Diz que deu
Diz que dá
Diz que Deus dará
Não vou duvidar, oh nega
E se Deus não dar
Como é que vai ficar, oh, nega?
"à Deus dará" , "à Deus dará"
Diz que deu
Diz que dá
Diz que Deus dará
Não vou duvidar, oh nega
E se Deus negar
eu vou me indignar e chega
Deus dará , Deus dará

Deus me fez um cara fraco
desdentado e feio
Pele e osso, simplesmente
Quase sem recheio
Mas se alguém me desafia
E bota a mãe no meio
Eu dou porrada a três por quatro
E nem me despenteio
Porque eu já tô de saco cheio.

(Chico Buarque)
We'll be singing
When we're winning
We'll be singing
I get knocked down
But I get up again
[You're never going to keep me down
I get knocked down
But I get up again
You're never going to keep me down
I get knocked down
But I get up again
You're never going to keep me down
I get knocked down
But I get up again
You're never going to keep me down
Pissing the night away
Pissing the night away
He drinks a whisky drink
He drinks a vodka drink
He drinks a lager drink
He drinks a cider drink
He sings the songs
That remind him of the good times
He sings the songs
That remind him of the better times
Oh, Danny Boy
Danny Boy, Danny Boy
I get knocked down
But I get up again
You're never going to keep me down
I get knocked down
But I get up again
You're never going to keep me down
I get knocked down
But I get up again
You're never going to keep me down
I get knocked down
But I get up again
You're never going to keep me down
Pissing the night away
Pissing the night away
He drinks a whisky drink
He drinks a vodka drink
He drinks a lager drink
He drinks a cider drink
He sings the songs
That remind him of the good times
He sings the songs
That remind him of the better times
Don't cry for me next door neighbour
I get knocked down
But I get up again
You're never going to keep me down
I get knocked down
But I get up again
You're never going to keep me down
I get knocked down
But I get up again
You're never going to keep me down
I get knocked down
But I get up again
You're never going to keep me down
I get knocked down
(We'll be singing)
But I get up again
Y ou're never going to keep me down
(When we're winning)
I get knocked down
(We'll be singing)
But I get up again
You're never going to keep me down