sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

domingo, 21 de fevereiro de 2010

PL

Pode ficar com a realidade,
esse baixo astral em que tudo entra pelo cano,
eu quero viver de verdade,
eu fico com o cinema americano.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Gospel

Por que que o sol nasceu de novo e não amanheceu?
Por que que tanta honestidade no espaço se perdeu?
Por que que Cristo não desceu lá do céu e o veneno só tem gosto de mel?
Por que que a água não matou a sede de quem bebeu?

Por que que eu passo a vida inteira com medo de morrer?
Por que que os sonhos foram feitos pra gente não viver?
Por que que a sala fica sempre arrumada se ela passa o dia inteiro fechada?
Por que que eu tenho caneta e não consigo escrever?

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

das estirpes (394)

Entretanto, antes de chegar ao verso final já tinha compreendido que não sairia nunca daquele quarto, pois estava previsto que a cidade dos espelhos (ou das miragens) seria arrasada pelo vento e desterrada da memória dos homens no instante em que acabasse de decifrar os pergaminhos e que tudo que estava escrito neles era irrepetível desde sempre e por todo o sempre, porque

da perspectiva

Quantos aqui ouvem os olhos eram de fé
Quantos elementos amam aquela mulher
Quantos homens eram inverno outros verão
Outonos caindo secos no solo da minha mão

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Os vivos são sempre e cada vez mais governados pelos mortos. Ou pelos mais vivos.
Não importa o que eu penso e não importa o que eu sinto. Os mortos continuam mortos.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

EAP - SMF

Numa meia-noite agreste, quando eu lia, lenta e triste,
Vagos, curiosos tomos de ciências ancestrais,
E já quase adormecia, ouvi o que parecia
O som de alguém que batia levemente a meus umbrais
«Uma visita», eu me disse, «está batendo a meus umbrais.
É só isso e nada mais.»

Ah, que bem disso me lembro! Era no frio dezembro,
E o fogo, morrendo negro, urdia sombras desiguais.
Como eu qu'ria a madrugada, toda a noite aos livros dada
P'ra esquecer (em vão) a amada, hoje entre hostes celestiais —
Essa cujo nome sabem as hostes celestiais,
Mas sem nome aqui jamais!

Como, a tremer frio e frouxo, cada reposteiro roxo
Me incutia, urdia estranhos terrores nunca antes tais!
Mas, a mim mesma infundindo força, eu ia repetindo,
«É uma visita pedindo entrada aqui em meus umbrais;
Uma visita tardia pede entrada em meus umbrais.
É só isso e nada mais».

E, mais forte num instante, já nem tardo ou hesitante,
«Senhor», eu disse, «ou senhora, decerto me desculpais;
Mas eu ia adormecendo, quando viestes batendo,
Tão levemente batendo, batendo por meus umbrais,
Que mal ouvi...» E abri largos, franquendo-os, meus umbrais.
Noite, noite e nada mais.

A treva enorme fitando, fiquei perdida receando,
Dúbia e tais sonhos sonhando que os ninguém sonhou iguais.
Mas a noite era infinita, a paz profunda e maldita,
E a única palavra dita foi um nome cheio de ais —
Eu o disse, o nome dela, e o eco disse aos meus ais.
Isto só e nada mais.

Para dentro estão volvendo, toda a alma em mim ardendo,
Não tardou que ouvisse novo som batendo mais e mais.
«Por certo», disse eu, «aquela bulha é na minha janela.
Vamos ver o que está nela, e o que são estes sinais.»
Meu coração se distraía pesquisando estes sinais.
«É o vento, e nada mais.»

Abri então a vidraça, e eis que, com muita negaça,
Entrou grave e nobre um corvo dos bons tempos ancestrais.
Não fez nenhum cumprimento, não parou nem um momento,
Mas com ar solene e lento pousou sobre meus umbrais,
Num alvo busto de Atena que há por sobre meus umbrais.
Foi, pousou, e nada mais.

E esta ave estranha e escura fez sorrir minha amargura
Com o solene decoro de seus ares rituais.
«Tens o aspecto tosquiado», disse eu, «mas de nobre e ousado,
Ó velho corvo emigrado lá das trevas infernais!
Dize-me qual o teu nome lá nas trevas infernais.»
Disse-me o corvo, «Nunca mais».

Pasmei de ouvir este raro pássaro falar tão claro,
Inda que pouco sentido tivessem palavras tais.
Mas deve ser concedido que ninguém terá havido
Que uma ave tenha tido pousada nos seus umbrais,
Ave ou bicho sobre o busto que há por sobre seus umbrais,
Com o nome «Nunca mais».

Mas o corvo, sobre o busto, nada mais dissera, augusto,
Que essa frase, qual se nela a alma lhe ficasse em ais.
Nem mais voz nem movimento fez, e eu, em meu pensamento
Perdida, murmurei lento, «Amigo, sonhos — mortais
Todos — todos lá se foram. Amanhã também te vais».
Disse o corvo, «Nunca mais».

A alma súbito movida por frase tão bem cabida,
«Por certo», disse eu, «são estas suas vozes usuais.
Aprendeu-as de algum dono, que a desgraça e o abandono
Seguiram até que o entono da alma se quebrou em ais,
E o bordão de desesp'rança de seu canto cheio de ais
Era este «Nunca mais».

Mas, fazendo inda a ave escura sorrir a minha amargura,
Sentei-me defronte dela, do alvo busto e meus umbrais;
E, enterrada na cadeira, pensei de muita maneira
Que qu'ria esta ave agoureira dos maus tempos ancestrais,
Esta ave negra e agoureira dos maus tempos ancestrais,
Com aquele «Nunca mais».

Comigo isto discorrendo, mas nem sílaba dizendo
À ave que na minha alma cravava os olhos fatais,
Isto e mais ia cismando, a cabeça reclinando
No veludo onde a luz punha vagas sombras desiguais,
Naquele veludo onde ela, entre as sombras desiguais,
Reclinar-se-á nunca mais!

Fez-me então o ar mais denso, como cheio dum incenso
Que anjos dessem, cujos leves passos soam musicais.
«Maldita!», a mim disse, «deu-te Deus, por anjos concedeu-te
O esquecimento; valeu-te. Toma-o, esquece, com teus ais,
O nome da que não esqueces, e que faz esses teus ais!»
Disse o corvo, «Nunca mais».

«Profeta», disse eu, «profeta — ou demónio ou ave preta!
Pelo Deus ante quem ambos somos fracos e mortais,
Dize a esta alma entristecida se no Éden de outra vida
Verá essa hoje perdida entre hostes celestiais,
Essa cujo nome sabem as hostes celestiais!»
Disse o corvo, «Nunca mais».

«Que esse grito nos aparte, ave ou diabo!, eu disse. «Parte!
Torna à noite e à tempestade! Torna às trevas infernais!
Não deixes pena que ateste a mentira que disseste!
Minha solidão me reste! Tira-te de meus umbrais!»
Disse o corvo, «Nunca mais».

E o corvo, na noite infinda, está ainda, está ainda
No alvo busto de Atena que há por sobre os meus umbrais.
Seu olhar tem a medonha dor de um demónio que sonha,
E a luz lança-lhe a tristonha sombra no chão mais e mais,
E a minh'alma dessa sombra, que no chão há mais e mais,
Libertar-se-á... nunca mais!
Foi como um dia que nascesse de um sol posto
Um dia já vivido, um dia já transposto
Há muito, muito tempo, um dia decomposto
Feito do que restou de dias de desgosto
Como um céu pelo avesso, um céu do lado oposto
De outro azul ele rola, mórbido, indisposto
Como rola no exílio um velho rei deposto
Com aquele azedume, aquele mesmo gosto
De lágrima infeliz, que rola pelo rosto

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Opiniões insólitas

1 - No mínimo dava um livro. Um romance. Belíssimo por sinal. Na pior das hipóteses, um ótimo motivo pra rir da cara de um idiota. (de uma mulher respeitadíssima).

2 - Há muito ainda praquela menina, praquela garota perplexa, frustrada e confusa resolver. (de uma terapeuta de vidas passadas, presentes e futuras).

3 - E foi dessa maneira que o Gnomo Xico finalmente mordeu sua bunda. (de alguém mais objetivo).

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Tem gente que pede, tem gente que implora, tem gente que não fica quieto até conseguir

Boa noite.

Por alguma razão que não podemos imaginar, você ligou para o disque Gnomo Xico, ou 0800queromedarmaldetodasasformaspossíveisnãoapenasumaouduas.
Sua ligação é muito importante para nós.
As Operações Gnomo Xico estarão sempre prontas a oferecer os mais surpreendentes serviços, a qualquer hora do dia ou da noite.

Pedimos que acesse, por gentileza, nosso menu digital:

Se desejar emprestar um livro raro ao Lucas ou qualquer idiota da FFLCH, tecle 1.

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Se desejar solicitar um limite maior no cartão de crédito, tecle 3.

Se desejar emprestar dinheiro a seu cunhado, tecle 4.

Se desejar emprestar dinheiro a qualquer pessoa que não seja seu cunhado, tecle 5.

Se desejar morar com sua sogra por um tempinho, tecle 6.

Se desejar morar com sua mãe por um tempinho, tecle 7.

Se desejar morar com qualquer pessoa que não seja sua mãe ou sua sogra, por qualquer tempo que seja, tecle 8.

Se desejar tentar sem proteção só uma vezinha porque a primeira não engravida, tecle 9.

Se desejar que essa porra de represa arrebente e afogue o mundo, a começar de você mesmo, não tecle bosta nenhuma, continue com o dedo enfiado no buraco do muro, jurando a si mesmo que está tudo sob controle, enquanto o Gnomo Xico ri da sua cara.

Se desejar falar com um de nossos atendentes, não se preocupe: o Gnomo Xico pode até ser meio míope, mas acaba encontrando você.

Muito obrigada pela sua inusitada preferência.
Nós, das Operações Gnomo Xico, continuaremos nos esforçando para atendê-lo da forma mais rápida e inesperada possível.

Lembre-se: não, a contingência não pode ser evitada e, não, vc não podia adivinhar.