terça-feira, 28 de junho de 2011

Déjà vu (particularmente adorei esse)

O termo é uma expressão da língua francesa que significa, literalmente, já visto: é uma reação psicológica que faz com que sejam transmitidas ideias de que já se esteve naquele lugar antes, já se viu aquelas pessoas, ou outro elemento externo.


"Você era a mais bonita das cabrochas dessa ala
Você era a favorita onde eu era mestre-sala
Hoje a gente nem se fala mas a festa continua
Suas noites são de gala, nosso samba ainda é na rua

Hoje o samba saiu, procurando você
Quem te viu, quem te vê
Quem não a conhece não pode mais ver pra crer
Quem jamais esquece não pode reconhecer

Quando o samba começava você era a mais brilhante
E se a gente se cansava você só seguia a diante
Hoje a gente anda distante do calor do seu gingado
Você só dá chá dançante onde eu não sou convidado

O meu samba assim marcava na cadência os seus passos
O meu sonho se embalava no carinho dos seus braços
Hoje de teimoso eu passo bem em frente ao seu portão
Pra lembrar que sobra espaço no barraco e no cordão

Todo ano eu lhe fazia uma cabrocha de alta classe
De dourado eu lhe vestia pra que o povo admirasse
Eu não sei bem com certeza porque foi que um belo dia
Quem brincava de princesa acostumou na fantasia

Hoje eu vou sambar na pista, você vai de galeria
Quero que você me assista na mais fina companhia
Se você sentir saudade por favor não dê na vista
Bate palma com vontade, faz de conta que é turista"

De corso

"Tive grandes planos
Sonhos geniais
Eu já tive vinte anos
Pois agora eu tenho mais

Nem um louco pra cantar as minhas glórias
Nem um fraco, a minha perdição
Nem as águas
As memórias
Da trajetória do meu galeão

Galeões de Espanha
Ide ao vosso rei
Ele sabe a minha sanha
Mencionai-lhe que eu voltei"

A rosa

"Arrasa o meu projeto de vida. Querida, estrela do meu caminho. Espinho cravado em minha garganta. A santa às vezes troca meu nome. E some. E some nas altas da madrugada. Coitada, trabalha de plantonista. Artista, é doida pela Portela. Ói ela, vestida de verde e rosa. A Rosa garante que é sempre minha. Quietinha, saiu pra comprar cigarro. Que sarro, trouxe umas coisas do Norte. Que sorte, voltou toda sorridente. Demente, inventa cada carícia. Egípcia, me encontra e me vira a cara. Odara, gravou meu nome na blusa. Abusa, me acusa. Revista os bolsos da calça. A falsa limpou a minha carteira. Maneira, pagou a nossa despesa. Beleza, na hora do bom me deixa, se queixa a gueixa. Que coisa mais amorosa. Ah, Rosa, e o meu projeto de vida? Bandida, cadê minha estrela guia?Vadia, me esquece na noite escura. Mas jura. Me jura que um dia volta pra casa. Arrasa o meu projeto de vida. Querida, estrela do meu caminho. Espinho cravado em minha garganta. A santa às vezes me chama Alberto. Decerto sonhou com alguma novela. Penélope, espera por mim bordando. Suando, ficou de cama com febre. A lebre, como é que ela é tão fogosa?A Rosa jurou seu amor eterno. Meu terno ficou na tinturaria. Um dia me trouxe uma roupa justa. Me gusta, me gusta. Cismou de dançar um tango. Meu rango sumiu lá da geladeira. Caseira, seu molho é uma maravilha. Que filha, visita a família em Sampa.Voltou toda descascada. A fada, acaba com a minha lira. A gira, esgota a minha laringe. Esfinge, devora a minha pessoa. À toa, a boa. Que coisa mais saborosa. Ah, Rosa, e o meu projeto de vida? Bandida, cadê minha estrela guia? Vadia, me esquece na noite escura. Mas jura. Me jura que um dia volta pra casa."

domingo, 26 de junho de 2011

Bastardos inglórios

Sabe, acho que essa pode ser minha obra-prima.

http://youtu.be/v4ug2PGniMM

sábado, 25 de junho de 2011

quinta-feira, 23 de junho de 2011

De besteiras graves

"Do alto da montanha ou em um cavalo em verde vale e tendo o poder de levitar
É como em um comercial de cigarros em que a verdade se esquece com uns tragos
Sonho difícil de acordar
É quando teus amigos te surpreendem deixando a vida de repente e não se quer acreditar
Mas essa vida é passageira, chorar eu sei que é besteira, mas, meu amigo, não dá prá segurar

Vou dar então um passeio pelas praias da Bahia onde a lua se parece com a bandeira da Turquia
É o planeta inteiro que respira, sinais de vida em cada esquina,tanta gente que se anima
É quando teus amigos te surpreendem deixando a vida de repente e não se quer acreditar
Mas essa vida é passageira, chorar eu sei que é besteira, mas, meu amigo, não dá prá segurar."

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Se eu não fosse eu



Só quem viu essa cena sabe...

domingo, 19 de junho de 2011

Nós quatro: eu com elas, eu sem elas...

De sengano

"Hoje você é quem manda, falou, tá falado, Não tem discussão, não.
A minha gente hoje anda falando de lado e olhando pro chão.
Viu? Você que inventou esse Estado, inventou de inventar toda escuridão
Você que inventou o pecado esqueceu-se de inventar o perdão.

Quando chegar o momento esse meu sofrimento vou cobrar com juros, juro!
Todo esse amor reprimido, esse grito contido, esse samba no escuro.
Você que inventou a tristeza agora tenha a fineza de “desinventar”.
Você vai pagar, e é dobrado, cada lágrima rolada nesse meu penar.

Apesar de você amanhã há de ser outro dia.
Ainda pago pra ver o jardim florescer qual você não quería.
Você vai se amargar vendo o dia raiar sem lhe pedir licença.
E eu vou morrer de rir e esse dia há de vir antes do que você pensa."

Três por quatro

"Se houver interesse, me encaminho,
após novas revelações...
ressalvando - sou péssima em fotos
(e em outros setores...)
Na tentativa de parecer natural, fico falsa.
Na tentativa de parecer falsa, fico falsa."

(Angela Bohème)

sexta-feira, 17 de junho de 2011

"Posso resumir em três palavras o que aprendi sobre a vida: "a vida continua"!"

"O egoísmo unifica os insignificantes."

quinta-feira, 16 de junho de 2011

Falei pra vc, mais uma vez cilada

- Quer dizer que a gente está aqui discutindo em cima do vazio? Vai te catar.
- É mesmo. Não sabe brincar, não desce pro play.

Do que não dá

- Vc podia fazer uma concessão.
- Eu também podia ser um mico de cavalinho. Acontece que eu não sou.

Angelinha, a sábia, editada pra poder vir parar no blog sem causar explosão nos ânimos

"Sei como é se melindrar e magoar e ferir por qualquer coisa. E melhorei demais nesse ponto, aravé da arte da concessão...
Agora, não se envolver com ninguém porque não tem estrutura??? Mas, que estrutura precisamos para nos envolvermos?
Mas, quem tem estrutura?
Não será que esse “não se envolver” está mais ligado ao medo? E se der certo? E se for bom? Com que direito eu tenho o direito de ser feliz? Minha carência me remete às exigências, nem sempre coerentes. Me remete ao monstro da rejeição...
E, não é exigir muito dos homens, que eles façam as coisas direito??? Me parece que essa função não é ativada durante a vida terrena deles, meu bem...
Você resumiu bem: na SUA cabeça. Mas por que “TINHA”? Mas, por que não está? Mas, porque exigimos PROVAS de que existe mesmo o alardeado gostar? Mas, por que o
outro tem que ser uma extensão de nós? Mas, por que você deixaria de buscar seu
passaporte e fazer outras coisas porque “fiquei brava e não vou brincar mais”?
Mas, por que você TEM que fazer qualquer coisa que não queira, hoje? Por que não amanhã?
As coisas não podem ser mais simples do que nossa imaginação precisa?
Há fases em nossa vida, que até as dores nos fazem bem – Sinal que não somos estéreis!
Será que o institucional está mudando de nome?

(Essa Angelinha escreve bem pra caramba, e é de uma sensibilidade única - até quando eu mutilo o texto)

Chess

A decência toda está em ter que dizer "xeque".
"Olha aí, meu bem,
Prudência e dinheiro no bolso,
Canja de galinha não faz mal a ninguém."

E quando a gente já nem esperava...

- Lá de onde eu venho isso foi um erro estratégico.
- Tático.
- Tático é quando vc perde. Colocar o adversário de volta no campo é estratégico.

Venice

- Não é porque uma pessoa não vale nada que ela está necessariamente errada.
- Nem é porque ela está certa que ela necessariamente não vale nada.

De fato

Nunca pude interferir na rotação da Terra. Mas já ignorei, pra que não me doesse.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Camilinha

De desastres - 3

"É verdade que nem eu mesma sabia ao certo o que fazia, minha vida era invisível. Mas eu sentia que meu papel era ruim e perigoso: impelia-me a voracidade por uma vida, vida real que tardava, e pior que inábil. Só Deus perdoaria o que eu era porque só Ele sabia do que me fizera e para o quê. Eu me deixava, pois, ser matéria d'Ele. Ser matéria de Deus era a minha única bondade. E a fonte de um nascente misticismo. Não misticismo por Ele, mas pela matéria d'Ele, mas pela vida crua e cheia de prazeres: eu era uma adoradora. Aceitava a vastidão do que eu não conhecia e a ela me confiava toda, com segredos de confessionário. Seria para as escuridões da ignorância que eu seduzia? e com o ardor de uma freira na cela. Freira alegre e monstruosa, ai de mim. E nem disso eu poderia me vangloriar: todos nós éramos igualmente monstruosos e suaves, ávida matéria de Deus."

De desastres - 2

"A esperança era o meu pecado maior. Cada dia renovava-se a mesquinha luta que eu encetara. Eu queria o seu bem, e em resposta ele me odiava. Contundida, eu me tornara o seu demônio e tormento, símbolo do inferno que devia ser para ele. Tornara-se um prazer já terrível o de não deixá-lo em paz. O jogo, como sem­pre, me fascinava. Sem saber que eu obedecia a velhas tradições, mas com uma sabedoria com que os ruins já nascem — aqueles ruins que roem as unhas de espanto —, sem saber que obede­cia a uma das coisas que mais acontecem no mundo, eu estava sendo a prostituta e ele o santo. Não, talvez não seja isso. As palavras me antecedem e ultrapassam, elas me tentam e me modi­ficam, e se não tomo cuidado será tarde demais: as coisas serão ditas sem eu as ter dito. Ou, pelo menos, não era apenas isso. Meu enleio vem de que um tapete é feito de tantos fios que não posso me resignar a seguir um fio só; meu enredamento vem de que uma história é feita de muitas histórias. E nem todas posso contar — uma palavra mais verdadeira poderia de eco em eco fazer desabar pelo despenhadeiro as minhas altas geleiras. Assim, pois, não falarei mais no sorvedouro que havia em mim enquanto eu devaneava antes de adormecer. Senão eu mesma terminarei pensando que era apenas essa macia voragem o que me impelia, esquecendo minha desesperada abnegação. Eu me tornara a sua sedutora, dever que ninguém me impusera. Era de se lamentar que tivesse caído em minhas mãos erradas a tarefa de salvá-lo, pois de todos os adultos e crianças daquele tempo eu era provavelmente a menos indicada."

De desastre

"Mas eu o exasperava tanto que se tornara doloroso para mim ser o objeto do ódio daquele homem que de certo modo eu amava. Não o amava como a mulher que eu seria um dia, amava-o como uma criança que tenta desastradamente proteger um adulto, com a cólera de quem ainda não foi covarde. Ele me irritava. De noite, antes de dormir, ele me irritava. Dura idade como o talo não quebrado de uma begônia. Eu o espicaçava, e ao conseguir exacerbá-lo sentia na boca, em glória de martírio, a acidez insuportá­vel da begônia quando ê esmagada entre os dentes; e roia as unhas, exultante."

segunda-feira, 13 de junho de 2011

"She's got a smile that it seems to me
Reminds me of childhood memories
Where everything was as fresh
As the bright blue sky

Now and then when I see her face
She takes me away to that special place
And if I stare too long
I'd probably break down and cry"

Camilinha

Analogia

(inspiração impulsiva de uma fotografia antiga).

"A minha pátria é como se não fosse, é íntima
Doçura e vontade de chorar; uma criança dormindo
É minha pátria. Por isso, no exílio
Assistindo dormir meu filho
Choro de saudades de minha pátria.

Se me perguntarem o que é a minha pátria direi:
Não sei. De fato, não sei
Como, por que e quando a minha pátria
Mas sei que a minha pátria é a luz, o sal e a água
Que elaboram e liquefazem a minha mágoa
Em longas lágrimas amargas.

Porque te amo tanto, pátria minha, eu que não tenho
Pátria, eu semente que nasci do vento
Eu que não vou e não venho, eu que permaneço
Em contato com a dor do tempo, eu elemento
De ligação entre a ação o pensamento
Eu fio invisível no espaço de todo adeus
Eu, o sem Deus!

Tenho-te no entanto em mim como um gemido
De flor; tenho-te como um amor morrido
A quem se jurou; tenho-te como uma fé
Sem dogma; tenho-te em tudo em que não me sinto a jeito
Nesta sala estrangeira com lareira
E sem pé-direito.

Ah, pátria minha, lembra-me uma noite no Maine, Nova Inglaterra
Quando tudo passou a ser infinito e nada terra
E eu vi alfa e beta de Centauro escalarem o monte até o céu
Muitos me surpreenderam parado no campo sem luz
À espera de ver surgir a Cruz do Sul
Que eu sabia, mas amanheceu...

Fonte de mel, bicho triste, pátria minha
Amada, idolatrada, salve, salve!
Que mais doce esperança acorrentada
O não poder dizer-te: aguarda...
Não tardo!

Quero rever-te, pátria minha, e para
Rever-te me esqueci de tudo
Fui cego, estropiado, surdo, mudo
Vi minha humilde morte cara a cara
Rasguei poemas, mulheres, horizontes
Fiquei simples, sem fontes.

Pátria minha... A minha pátria não é florão, nem ostenta
Lábaro não; a minha pátria é desolação
De caminhos, a minha pátria é terra sedenta
E praia branca; a minha pátria é o grande rio secular
Que bebe nuvem, come terra
E urina mar.

Mais do que a mais garrida a minha pátria tem
Uma quentura, um querer bem, um bem
Um libertas quae sera tamem
Que um dia traduzi num exame escrito:
"Liberta que serás também"
E repito!

Ponho no vento o ouvido e escuto a brisa
Que brinca em teus cabelos e te alisa
Pátria minha, e perfuma o teu chão...
Que vontade de adormecer-me
Entre teus doces montes, pátria minha
Atento à fome em tuas entranhas
E ao batuque em teu coração.

Não te direi o nome, pátria minha
Teu nome é pátria amada, é patriazinha
Não rima com mãe gentil
Vives em mim como uma filha, que és
Uma ilha de ternura: a Ilha
Brasil, talvez.

Agora chamarei a amiga cotovia
E pedirei que peça ao rouxinol do dia
Que peça ao sabiá
Para levar-te presto este avigrama:
"Pátria minha, saudades de quem te ama...""

sábado, 11 de junho de 2011

Você é doida demais

Tem vezes que eu mesma assusto.

"Certas coisas só são amargas se a gente as engole."

Da Legião estrangeira - 4

"Também me desajeitava o medo; que reduzia-me a não fazer nada. A constância do pavor acusava-me de uma alegria leviana que a essa hora nem alegria mais era. Passara o instante, e eu, cada vez mais urgente, expulsava-me sem me largar. Eu já teria encerrado o sentimento. Mas havia uma indignação silenciosa, e a acusação é que eu nada fazia por mim ou pela humanidade. Levada a uma resignação constrangida: as coisas são assim mesmo. Só que ainda não tinha me contado isso, tinha vergonha; e adiava indefinidamente o momento de falar claro que as coisas são assim."

Da Legião estrangeira -3

"Mas sentimentos são água de um instante. Em breve — como a mesma água já é outra quando o sol a deixa muito leve, e outra ainda no pé que mergulha — em breve já não tinha no rosto apenas aura e iluminação. Estava ansiosa. Daí a pouco a mesma água era outra, e olhava contrafeita, enredada na falta de habilidade de ser boa. E, a água já outra, pouco a pouco tinha no rosto a responsabilidade de uma aspiração, o coração pesado de um amor que já não era mais livre."

Da Legião estrangeira - 2

"Veio trazido por mão que queria ter o gosto de me dar coisa nascida. Sua graça pegou-me em flagrante. Por si própria desperta a suavíssima curiosidade que junto de uma manjedoura é adoração. Sentira-se grande demais. Eu, um pouco ousada, fiquei feliz."

Da Legião estrangeira - 1

"Se me perguntassem sobre Ofélia e seus pais, teria respondido com o decoro da honestidade: mal os conheci. Diante do mesmo júri ao qual responderia: mal me conheço — e para cada cara de jurado diria com o mesmo límpido olhar de quem se hipnotizou para a obediência: mal vos conheço. Mas às vezes acordo do longo sono e volto-me com docilidade para o delicado abismo da desordem."

sexta-feira, 10 de junho de 2011

De angústia

"Terei toda a aparência de quem falhou, e só eu saberei se foi a falha necessária."

"Mais vale errar se arrebentando do que poupar-se para nada."

Da vida

"O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem."

E assim foi-se

"Meu nome, minha identidade, meu retrato. Minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. Meus cartões de visita. Todos os papéis onde eu escrevera meu nome.
Minhas roupas, meus lenços, minhas camisas. A medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus. Minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos.
Meus remédios, minhas receitas médicas, minhas dietas. Minhas aspirinas, minhas ondas-curtas, meus raios-X. Meus testes mentais, meus exames de urina.
Na estante todos os meus livros de poesia. Meus livros de prosa as citações em verso. No dicionário as palavras que poderiam se juntar em versos.
Os utensílios de meu uso: pente, escovas, tesouras de unhas. O uso de meus utensílios.
As frutas postas sobre a mesa. A água dos copos. O pão de propósito escondido. As lágrimas dos olhos que, ninguém o sabia, estavam cheios de água.
Os papéis onde irrefletidamente eu tornara a escrever meu nome.
Minha infância, de dedos sujos de tinta, cabelo caindo nos olhos. A menina esquiva, sempre nos cantos, e que riscava os livros, mordia o lápis, andava na rua chutando pedras.
Até os dias ainda não anunciados nas folhinhas. Os minutos de adiantamento de meu relógio, os anos que as linhas de minha mão asseguravam. As futuras viagens em volta da terra, as futuras estantes em volta da sala.
Minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte."

A foice e o martelo

Em homenagem a mim e Alfinete Elessar Odinson (mais conhecido hoje em dia simplesmente como Wilson)

Lá nunca mais ninguém vai bater tão forte.
Lá nunca mais ninguém vai cortar tão afiado.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

De caminho

"quando tivermos feito tudo para conseguir, e falhado, resta-nos um só caminho...o de mais nada fazer."

De direito

"Mas nem sempre é necessário tornar-se forte. Temos que respeitar a nossa fraqueza. Então, são lágrimas suaves, de uma tristeza legítima a qual temos direito."

De farpas

"Mas tantos defeitos tenho. Sou inquieta, ciumenta, áspera, desesperançosa. Embora amor dentro de mim eu tenha... Só que não sei usar amor: às vezes parecem farpas..."

"Viver me deixa tão impressionada, viver me tira o sono."

Diálogos insólitos

- Quer saber, pode até ser que Veneza nem queira mesmo invadir o Piemonte. Veneza pode não ser malvada. Veneza pode estar querendo ajudar. Vai saber o que se passa na cabeça de Veneza.
- Claro. Pode ser também que os Estados Unidos queiram ajudar a Líbia. Tudo pode ser. Vai saber o que se passa na cabeça dos Estados Unidos.

Diálogos insólitos

- Mais cedo ou mais tarde o Piemonte vai cometer um erro estratégico fatal.
- E graças à sua amiguinha Veneza, parece que vai ser bem mais tarde.

Diálogos insólitos

- Eu também não gosto de Veneza.
- Mentira. Vc já está quase chamando Veneza para jogar no seu clubinho.

Diálogos insólitos

- Existen três opções possíveis. Primeira: dois estados fracos lutam e nesse caso não faz diferença porque nenhum vai vencer (quem vencer não vai se aguentar no poder nem cinco minutos). Segunda: dois estados fortes lutam, e nesse caso não faz diferença porque um deles vai vencer mesmo e não importa quem vença, é péssimo. Terceira: um estado fraco e um forte lutam e não faz diferença porque o forte vai ganhar mesmo.
- Vc apoia Veneza só porque ela está perdendo?
- Mais ou menos isso.

Diálogos insólitos

- Eu não estou torcendo pra ninguém. Eu sou Portugal ou a Espanha, ou qualquer desses países que só ficam assistindo e comendo pipoca. E tomara que eu não seja Espanha.
- Por quê?
- Porque senão o lado que eu estou torcendo perde.

Diálogos insólitos

- Imagina que eu quero ser presidente dos Estados Unidos. E estão concorrendo comigo o Bin Laden e a Madre Tereza. Eu vou atacar a Madre Tereza, claro. Ela é o oponente mais forte.
- Vc só esqueceu o detalhe de que vc não quer ser presidente dos Estados Unidos.
- Nem o Bin Laden. Ele só quer concorrer à próxima eleição. A preocupação única no momento é a Madre Tereza.

Diálogos insólitos

- Eu entendo vc não gostar do Piemonte. Mas torcer pra Veneza é muito errado. Veneza é ruim e o Piemonte nunca fez nada pra vc.
- Eu não estou nem aí se Veneza massacra camponeses. Eu não gosto do Piemonte e pronto.
- Tudo bem. Não precisa gostar do Piemonte. Só não entendo porque vc gosta mais de Veneza.
- Eu não gosto mais de Veneza. Eu quero que o Piemonte e Veneza se aniquilem numa luta fraticida até a morte.

Diálogos insólitos

- Eu não preciso invadir o Piemonte se Veneza está fazendo isso pra mim de graça.
- Pára de torcer pra Veneza. Veneza é errada.

terça-feira, 7 de junho de 2011

Camilinha

"Sonhar só não tá com nada

É uma festa na prisão."

Ser por partes - 7

"É adorar. Adorar o impossível. É detestar. Detestar o possível. É acordar ao meio-dia com uma cara horrível, comer somente e lentamente uma fruta meio verde, e ficar telefonando até a hora do jantar, e não jantar, e ir devorar um sanduíche americano na esquina, tão estranha é a vida sobre a Terra."

Escolha

"Claro que a terra vai comer
ou o fogo vai queimar.
Mas você não."

(da Angelinha Bohème- que é muito modesta)

Ser por partes - 6

"É atravessar de ponta a ponta o salão da festa com uma indiferença mortal pelas mulheres presentes e ausentes. Amanhecer chorando, anoitecer dançando. É manter o ritmo na melodia dissonante. Usar o mais caro perfume de blusa grossa e blue-jeans. Ter horror de gente morta, ladrão dentro de casa, fantasmas e baratas. Ter compaixão de um só mendigo entre todos os outros mendigos da Terra. Permanecer na paixão a eternidade de um mês por um violinista estrangeiro de quinta ordem. Eventualmente, é como se não fosse, sentindo-se quase a cair do galho, de tanto amadurecer em todo o seu ser. É fazer marcação cerrada sobre a presunção incomensurável dos homens. Tomar uma pose, ora de soneto moderno, ora de minueto, sem que se dissipe a unidade essencial. É policiar parentes, amigos, mestres e mestras com um ar de quem nada vê, nada ouve, nada fala."
"O meu mundo não é como o dos outros, quero demais, exijo demais; há em mim uma sede de infinito, uma angústia constante que eu nem mesma compreendo, pois estou longe de ser uma pessoa; sou antes uma exaltada, com uma alma intensa, violenta, atormentada, uma alma que não se sente bem onde está, que tem saudade sei lá de quê!"

De verdade

"Nunca fui como todos
Nunca tive muitos amigos
Nunca fui favorita
Nunca fui o que meus pais queriam
Nunca tive alguém que amasse
Mas tive somente a mim
A minha absoluta verdade
Meu verdadeiro pensamento
O meu conforto nas horas de sofrimento
não vivo sozinha porque gosto
e sim porque aprendi."

Em verso

"Há uma primavera em cada vida:
é preciso cantá-la assim florida,
pois se Deus nos deu voz, foi para cantar!
E se um dia hei de ser pó, cinza e nada
que seja a minha noite uma alvorada,
que me saiba perder pra me encontrar."

Tédio

"Vontade preguiçosa de apanhar meus nervos
e fazer uma rede para me deitar...
e fechar os meus olhos, como que cansada
de olhar..."

De nostalgias

- Tudo que é meu é meu. Tudo que é seu é meu.
- E eu ainda acho isso fofo.

Diálogos insólitos

- Não estou falando de justiça. Isso não é justiça. Não é distribuição de renda. O que é meu é meu. Não tem que ser justo ou injusto.
- OK. É certo. Mas se fosse distribuição de renda, aí sim seria uma injustiça sem limite.
- Na verdade há controvérsias.
- Não importa a verdade. Em história o que parece é.

Ser por partes - 5

"É chegar em casa em dia de chuva, úmida camélia, e dizer para a mãe que veio andando devagar para molhar-se mais. É ter saído um dia com uma rosa vermelha na mão, e todo mundo pensou com piedade que ela era uma louca varrida. É ir sempre ao cinema mas com um jeito de quem não espera mais nada desta vida. É ter uma vez bebido dois gins, quatro uísques, cinco taças de champanha e uma de cinzano sem sentir nada, mas ter outra vez bebido só um cálice de vinho do Porto e ter dado um vexame modelo grande. É o dom de falar sobre futebol e política como se o presente fosse passado, e vice-versa."

Virgínia

"-Uma vez, brincava com um espelhinho à beira de um poço da minha casa. O poço estava seco e era bonito o reflexo do espelhinho correndo como se fosse uma lanterna pela parede escura, sabe como é, não?
Mas de repente o espelho caiu e se espatifou lá no fundo.
Fiquei desesperada, tinha vontade de me atirar lá dentro pra buscar os cacos do meu espelho. Então alguém levou-me pela mão e me consolou dizendo que não adiantava mais nada porque mesmo que eu juntasse, um por um, os cacos todos, nunca mais o espelho seria como antes. Sabe, vejo Laura como aquele espelho despedaçado: a gente pode ir lá no fundo e colar os cacos, mas tudo então o que ele vier a refletir, o céu, as árvores, as pessoas, tudo, tudo estará como ele próprio, partido em mil pedaços.
Veja bem, triste não é o que possa vir a acontecer. Triste é o que está acontecendo neste instante. Ela tem a cabeça doente, o coração doente...E não há remédio. Só o sopro lá dentro é que continua perfeito como o espelho, antes de cair no chão."

De solução

"Solução melhor é não enlouquecer mais do que já enlouquecemos, não tanto por virtude, mas por cálculo. Controlar essa loucura razoável: se formos razoavelmente loucos não precisaremos desses sanatórios porque é sabido que os saudáveis não entendem muito de loucura. O jeito é se virar em casa mesmo, sem testemunhas estranhas. Sem despesas."

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Ser por partes - 4

"É poder usar óculos como se fosse enfeite, como um adjetivo para o rosto e para o espírito. É esvaziar o sentido das coisas que transbordam de sentido, mas é também dar sentido de repente ao vácuo absoluto. É aguardar com paciência e frieza o momento exato de vingar-se da má amiga. É a inclinação do momento."

domingo, 5 de junho de 2011

Existem jeitos e jeitos de esperar algo definitivo. Principalmente quando definitivo é definitivo mesmo. De fim. De pra nada pra lá de lá. De qualquer forma, estou fugindo do assunto. Se eu puder, escolho a leviandade de uma espera feliz. Se eu puder. Mas nem sempre a gente pode escolher isso.

Ser por partes - 3

"É viver a tarde inteira, em uma atitude esquemática, a contemplar o teto, só para poder contar depois que ficou a tarde inteira olhando para cima, sem pensar em nada. É dizer a palavra feia precisamente no instante em que essa palavra se faz imprescindível e tão inteligente e natural. É também falar legal e bárbaro com um timbre tão por cima das vãs agitações humanas, uma inflexão tão certa de que tudo neste mundo passa depressa e não tem a menor importância."

De experiência

"Numa experiência pela qual peço perdão a mim mesma, eu estou saindo do meu mundo e entrando no mundo."

Disso

"Quando se realiza o viver, pergunta-se: mas era só isto?
E a resposta é: não é só isto, é exatamente isto."

Ser por partes - 2

"É não usar pintura alguma, o corpo todo apagado dentro de veste tão de propósito sem graça, mas lançando fogo pelos olhos. É lançar fogo pelos olhos."

De achar

"Perder- se significa ir achando e nem saber o que fazer do que se for achando. Não sei o que fazer da aterradora liberdade que pode me destruir. Mas enquanto eu estava presa, estava contente? Ou havia,e havia, aquela coisa sonsa e inquieta em minha feliz rotina de prisioneira? Ou havia, e havia, aquela coisa latejando, a que eu estava tão habituada que pensava que latejar era ser uma pessoa. É? Também, também. Não sei se terei uma outra para substituir a perdida."

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Ser por partes - 1

"Não é viver em um píncaro azulado: é muito mais! É sorrir bastante dos homens e rir interminavelmente das mulheres, rir como se o ridículo, visível ou invisível, provocasse uma tosse de riso irresistível."

Diálogos insólitos

- Eu sei que não é da minha conta. Mas acho que, ainda que considerando a pior das circunstâncias, não é boa idéia vc matá-la.
- Tem razão. Não é da sua conta.

Probabilidade de diálogos insólitos

- Eu vou matar essa mulher (a palavra foi outra, mas não importa exatamente qual foi, fica aqui mulher mesmo). Não é jeito de falar. Vou matar de verdade. Vou apertar o pescoço dela até ela ficar sem ar e morrer.
- E por uma estranha e desconfortável razão, eu acredito nisso.

"não se perde por esperar, não se perde por não entender."