quarta-feira, 2 de março de 2011

O acaso vai...

"Havia a levíssima embriaguez de andar junto, a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca e se vê que por admiração se estava de boca entreaberta: eu respirava de antemão o ar que estava à frente, e ter esta sede era a minha própria água.
Andava por ruas e ruas falando e rindo, falava e ria para dar matéria peso à levíssima embriaguez que era a alegria da sede.
Até que tudo se transformou em não. Tudo se transformou em não quando eu quis essa mesma alegria. Então a grande dança dos erros. O cerimonial das palavras desacertadas. Eu procurava e não via, eu não via que não vira, eu que, estava ali, no entanto. No entanto eu que estava ali. Tudo errou, e havia a grande poeira das ruas, e quanto mais errei, mais com aspereza quis, sem um sorriso. Tudo só porque tinha prestado atenção, só porque não estava bastante distraída. Só porque, de súbito exigente e dura, quis ter o que já tinha. Tudo porque quis dar um nome; porque quis ser, eu que era. Fui então aprender que, não se estando distraído, o telefone não toca, e é preciso sair de casa para que a carta chegue, e quando o telefone finalmente toca, o deserto da espera já cortou os fios. Tudo, tudo por não estar mais distraída."

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