terça-feira, 11 de maio de 2010

Dalila

"Foi desgraça, meu Deus! Não! Foi loucura
Pedir seiva de vida à sepultura,
Em gelo me abrasar,
Pedir amores a marco sem brio,
E a rebolcar-me em leito imundo e frio
A ventura buscar.

Errado viajar sentei-me à alfombra
E adormeci da mancenilha à sombra
Em berço de cetim.
Embalava-me a brisa no meu leito
Tinha o veneno a lacerar-me o peito
A morte dentro de mim.

Tens o peito de fogo e a alma fria.
O cetro empunhas lúbrico da orgia
Em que reinas tu só!
Mas que finda o ranger de uma mortalha,
A enxada do coveiro que trabalha
A revolver o pó.

Não te maldigo, não! Em vasto campo
Julguei-te estrela e eras pirilampo
Em meio à cerração.
Prometeu quis dar a luz à fria argila.
Não pude. Pede a Deus, louca Dalila,
A luz da redenção."

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