Descompromisso

Não vou.
O personal do vizinho me explicou hoje que não adianta eu correr na esteira que não vou emagrecer. Podia explicar que não corro pra emagrecer, mas pra não ficar louca. Pra quê? Dar satisfação a um marombeiro assexuado que me chamou de gorda?
Não vou.
Devia ir. Me faz bem.
Não vou porque não quero. Não pela mesma razão que não fui aos outros dois compromissos que eu tinha. Porque estava com preguiça e porque estava com raiva. Não. Não vou porque não quero hoje. Não quero nada.
Não pode ser um dia de bom augúrio, não é dia de fazer desejos. E talvez eu não tenha desejos a fazer. Não que não tenha desejos. Apenas não quero fazê-los, pelo menos hoje. Nem planos, nem nada.
Porque se planos têm o mau hábito de cair pelo caminho, parece que hoje são mesmo tudo que cairá pelo caminho.
Do tiro não tem nem mais lembrança.
Do resto? Do resto tem. E também é por isso que não vou. Pra não reformular sem querer os desejos antigos, quando quase sinto os cortes das costas, embora quase não sinta o tiro.
Por hoje, correr na esteira basta.