terça-feira, 7 de junho de 2011

Ser por partes - 6

"É atravessar de ponta a ponta o salão da festa com uma indiferença mortal pelas mulheres presentes e ausentes. Amanhecer chorando, anoitecer dançando. É manter o ritmo na melodia dissonante. Usar o mais caro perfume de blusa grossa e blue-jeans. Ter horror de gente morta, ladrão dentro de casa, fantasmas e baratas. Ter compaixão de um só mendigo entre todos os outros mendigos da Terra. Permanecer na paixão a eternidade de um mês por um violinista estrangeiro de quinta ordem. Eventualmente, é como se não fosse, sentindo-se quase a cair do galho, de tanto amadurecer em todo o seu ser. É fazer marcação cerrada sobre a presunção incomensurável dos homens. Tomar uma pose, ora de soneto moderno, ora de minueto, sem que se dissipe a unidade essencial. É policiar parentes, amigos, mestres e mestras com um ar de quem nada vê, nada ouve, nada fala."

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